·
·
P. 10
·
HÍPIAS (HIPPYS) DE RÉGIO (RHEGIUM)
·
Supostamente o mais antigo historiador
da Sicília. Boa chance de não ter existido e criado no período helenístico para
compor uma ‘tradição’ anterior.
·
A Suda informa que Hípias foi o 1º. a
escrever História da Sicília, e começou no tempo das Guerras Pérsicas.
·
Obras:
- Kteseis of Italy,
Sicelica – 5 livros.
- Crônicas – 5 livros
- Argolica – 3 livros.
·
Sua obra teria sido epitomizada por um
certo Myes.
·
Cadmo de Mileto teria sido epitomizado/inventado
por Bíon de Proconeso ou alguém se dizendo ele, que disse ser Cadmo o 1º a
escrever História da Iônia, embora a tradição atribua a primazia a
Hecateu/Hecataeus.
·
Se Hípias foi o 1º a escrever história
do oeste grego, surpreende não ser citado em Dionísio, Diodoro, Estrabão ou
Pausânias. Só Estéfano de Bizâncio o menciona.
·
Os que mais crêem na existência de
Hípias seriam eruditos italianos, entre os quais De Sanctis e Momigliano.
·
Pp
8-9
·
Fragmentos atribuídos a Hípias
contrariam opiniões e versões geralmente reconhecidas :
- Teria descoberto um
pitagórico Petron (cf. Plutarco), que dizia haverem 83 universos, embora
ninguém antes dos atomistas tenha aventado a hipótese de haver mais de um
universo.
- Chama os Argólidas de
povo “pré-lunar”, dando-lhes mais antiguidade que os Frígios (contrariando
Heródoto).
- Teria contado a
história de Jasão ter trazido Medea para Corinto, sugerindo-o ser a fonte da
Medea de Eurípides.
- Teria dito que um
certo rei argivo Pollis na Sicília deu nome a um vinho.
- E que havia um lugar
de mistérios que matava quem lá dormisse, armadilha construída pelo rei
Epainetos durante a 36ª olimpíada quando o Esparatano Aritamas venceu o
Stadium.
- Nas duas últimas
nenhuma referência há sobre esses reis ou sobre o olímpico. O autor da epítome
escreveu por volta de 280 a.C. o mais tardar e não muito antes pois
historiadores não usavam a datação olímpica antes.
·
P.10
·
Pearsons conclui que alguns preferem
crer na existência de Hípias e não em sua invenção pelo ‘epitomizador’. Mas para Pearsons, a 1ª alternativa é a mais
difícil de arguir.
·
P. 11
·
ANTÍOCO
DE SIRACUSA
·
‘More solid ground’ . Dionísio, Diodoro,
Estrabão e Pausânias o citam.
·
Possível mesma idade de Heródoto, não
mais antigo que Tucídides. Teria encerrado sua obra em 424/23 .
·
Escreveu em dialeto Iônico, nem ático nem dórico de
Siracusa, talvez querendo ser considerado o Heródoto do Oeste. Diodoro nos
conta que sua obra foi dividida em 9 partes por alguém que a organizou em
Alexandria.
·
Pearsons segue Jacoby ao dizer que Antíoco não
teria feito duas obras sobre a Itália e sobre a Sicília, mas uma só
·
Itália para Antíoco é uma área restrita, não
compreende sequer a Magna Grécia.
·
Ele começa sua narrativa com peri italihs. Embora Estrabão ache que é o título descrevendo a
obra, na verdade é sobre os italoi, as pop.
não-gregas (Oinocroi os primeiros) em suas migrações no continente e então para
a Sicília, antes da chegada dos Sícelos.
·
P.12
·
Dionísios apresenta o que escritores anteriores
disseram sobre a colonização da Sicília e as origens dos nomes dos povos:
Antíoco chama os povos primitivos da Itália pelo nome grego de Oinoicroi mas eles nomeavam-se segundo
um rei chamado Ítalo e que após sua morte, seu sucessor Morges reinou até a
chegada de um certo Sícelo, que querendo criar um reino para si, dividiu o povo
e levou-o para a Sicília.
·
12-13
·
Helânico, contemporâneo de Antíoco
trouxe Enéas para a Itália e colocou-o junto com Odisseus como co-fundadores de
Roma. O início do sec. V é muito cedo para os romanos tentarem estabelecer
origens troianas, mas os gregos procuravam helenizar o local onde surgiu Roma,
para colocar toda a Itália como extensão da Grécia.
·
Tudo acima seria tradição, mas Dionísio
‘com sua credulidade típica’ teria tentado estabelecer a tradição como os
fatos.
·
Nota 39 – B. Brea diz que a tradição é
certamente falsa pois não se encontrou em escavações na Sicília traço algum de
culturas apeninas ou sub-apeninas.
·
O problema da coleta de informação por
Antíoco é que ele tentou fazer os mesmos inquéritos de Heródoto entre povos
não-gregos, mas ao contrário daquele no Egito ou Babilônia, o sucesso das
possíveis tentativas de Antíoco entre Sícelos e Itálicos foi limitado pois
estes povos não praticavam a escrita no início do século V a.C. e a aprenderam
de Gregos e Etruscos.
·
Pearsons: A tradição oral pode ser
preservada sem o auxílio da escrita, mas para que isso ocorra, é necessário um
vigoroso desenvolvimento político com a presença de centros políticos
regionais. E apesar do forte desenvolvimento cultural na Itália do séc V a.C.
não há sinal de um desenvolvimento político equivalente. Não se pode esperar
relatos mais numerosos ou prolíficos do que os das comunidades não-gregas.
·
Nota 40: C.F.Crispo Contributo alla storia della più antica civiltà della Magna Grecia
crê em tradições orais e escritores locais dos quais Antíoco teria derivado
seus relatos. E arqueólogos como Bracesi La
Sicilia Antica pensam que algumas tradições locais foram adaptadas pelos
colonizadores gregos para seus próprios mitos fundadores. Contra esta idéia: L.
Pareti, Kokalos 2 (1956: 5-19)
·
pp. 13-14
·
Políbio critica Timeu por não ter
inquirido as populações ítalo-sicilianas não-gregas à moda de Heródoto, mas ele
devia estar consciente da dificuldade em fazê-lo, assim como Timeu, e do pouco
retorno dessa abordagem.
·
Antíoco queria estabelecer a história do
sul da Itália pré-grega, como a história de um reino ‘italiano’ de pessoas que
ele denominava oinoitroi . Demarcou
as fronteiras deste reino: excluiu o calcanhar e o artelho da bota italiana ao
sul e os Opici ou Ausones ao norte (Oscos, Samnitas ou Campanianos como os
romanos os chamavam)
·
Ao escrever sobre a Sicília, não está claro
como ele estabeleceu a distinção entre Sicanos e Sícelos. É suposto que os
gregos da Sicília a fizessem, mas por que Antíoco escolheu dizer que os Sícelos
vieram da Itália? Antíoco não pode
reclamar mais conhecimento sobre a origem dos Sícelos do que nós sobre a dos
Etruscos. Como ele, somos dependentes de logoi
e
tecmuria.
·
Quando Dionísio fala sobre os Sicanos,
ele pode ter dado o que pensava ser o senso comum, e não se pode ter certeza
sobre quanto do que ele diz foi tirado de Antíoco. Este diz que os Sicanos eram
um povo Ibérico que se fixou na Sicília não muito antes da invasão Sícela,
fugindo dos Ligúrios. Diz ainda que não eram muito numerosos e que muitas
partes da ilha permaneceram desabitadas, mas mesmo assim ela foi chamada de Sicânia
após sua chegada. Antes seu nome era Trinacria. Uma explicação da Trinacria
Homérica. A troca de nomes segue o padrão de Antíoco: Oinoitroi, Italoi,
Morgetes.
·
pp. 14-15
·
Não há fragmento de Dionísio que
preserve o que Antíoco tinha a dizer sobre o período entre a invasão Sícela e a
chegada dos primeiros gregos. Nem há qualquer fragmento sobre a data da
fundação de Siracusa.
·
Tucídides certamente conhecia o trabalho
de Antíoco e nenhum dos dois dá uma data para a chegada dos Sícelos, apenas nos
dizem que fugiam dos Opici. Dionísio afirma que Tucídides dá uma data, mas
talvez só o tenha feito para mostrar a divergência com Helânico, que situou a
travessia dos Sícelos na 3ª geração após a guerra de Tróia – um período muito
anterior ao escolhido por Dionísio.
·
Tucídides data a fundação de todas as
outras colônias gregas a partir de Siracusa, que é o que se espera de um
historiador siciliano. Provavelmente, ainda que tenha feito pesquisas locais,
suas informações vêm de Antíoco.
·
Combinando o que Heródoto (7.156-7) diz
sobre a destruição de Mégara Hibléia com o que Tucídides relata (6.4.2),
chega-se a data de 733 para a fundação de Siracusa.
·
Estrabão – citando – Antíoco – diz que
Árquias (fundador Coríntio de Siracusa) partiu junto com Myscelos (fundador de
Crotona) e na viagem de volta Árquias desembarcou no local da futura Crotona e
ajudou Myscelos a fundar uma colônia lá.
·
Dionísio diz que a Crotona foi fundada
em 710/09 a.C. e o armênio Eusébio diz que foi apenas 2 anos depois.
·
Pearsons suspeita que Antíoco,
siracusano adiantou a data da fundação de Siracusa por motivos patrióticos, não
dando uma data tão tardia quanto após 710 e por isso forçou a aproximação com a
data de Siracusa.
·
Pp.15-16
·
Estrabão também diz que Locri foi
fundada não muito após a fundação de Crotona e Siracusa, e diz que houve a
co-operação de Siracusa na fundação de Locri. Pearson vê aí a mão de Antíoco.
·
É importante lembrar que o século VIII
coincide com a descoberta da escrita pelos gregos. Nenhum registro anterior é
feito, exceto a Guerra de Tróia. É o primeiro século ‘letrado’ e também de
quando são datadas as 1as Olimpíadas, as primeiras colônias e até mesmo a
Fundação de Roma. As datas no século VIII são as mais antigas que se pode
esperar de registros escritos.
·
Como dito antes, a explicação mais
simples para as datas de Tucídides é que ele copiou tudo de Antíoco. Mas as
explicações mais simples nem sempre são as verdadeiras. Jacoby pensa que
Tucídides copiou tudo de Helânico, cujos interesses por Cronologia são bem
conhecidos. Antíoco não teria se preocupado muito em datar os eventos.
·
P.17
·
Estrabão cita Antíoco para uma versão da
fundação de Régium. E fala indiretamente de Zancle, o que pode ser uma prova de
que Tucídides leu em Antíoco seu relato sobre a fundação de Zancle.
·
Antíoco teria aceitado a versão dos
fundadores de Tarento como Partheniai Espartanos.
·
Metaponto: Estrabão cita a versão –
provável – de Timeu (que trouxe quantos personagens da Idade Heróica ele pôde
para a Itália ) e diz que foram homens da Pilos de Nestor em seu retorno de
Tróia que fundaram a cidade. Então Estrabão cita o relato de Antíoco dizendo
que foram Aqueus mandados por Aqueus de Síbaris a fundar a cidade que havia
sido abandonada. Lembra como Calcídios fundaram Regium mandados por Calcídios
de Zancle.
·
Os Aqueus estavam descontentes com os
Espartanos por forçarem Aqueus a deixarem o Peloponeso e após vê-los chegarem
ao local de Tarento se apressaram a fundar Metaponto temendo que pudessem tomar
o local.
·
P. 18
·
Outras histórias de Antíoco mostram como
vários povos abandonaram seus locais originais de fundação de cidades:
Crotonienses abandonaram o 1º local no Cabo Zefírion, os Cnídios abandonaram o
Cabo Pachynos nas Ilhas Líparas, expulsos por Elimeus e Fenícios e os Foceus
que colonizaram Vélia primeiro tentaram a Córsega.
·
Também Antíoco mostra como as colônias
de iniciativa conjunta de vários povos foram o modelo para a fundação de Síris
no sec. V a.C. por Tarentinos e Túrios – que seriam colonos Atenienses – com um
exilado Espartano à frente da fundação. Embora a colônia fosse considerada um
empreendimento Tarantino e mais tarde mudasse seu nome para Heracléa.
·
Os relatos de Antíoco entre o tempo das
fundações no século VIII até o século V desapareceram completamente. Exceto por
lexicógrafos, Pausânias, Dionísio e Estrabão são os únicos que citam suas
histórias diretamente. Os dois primeiros parecem ter tido acesso ao seu texto,
mas Estrabão provavelmente citava o que leu em Timeu, conhecido por ser crítico
de autores anteriores. Uma geração anterior de estudiosos concluiu que Estrabão
dependia principalmente de Políbio e da Geographoûmena
de Artemidoros para seus relatos sobre a Itália e que Artemidoro que o supriu
com as citações de Timeu, as quais podem conter alusões e críticas a Antíoco.
·
Estrabão não parece ter grande
familiaridade com a literatura grega e é mais fácil pensar que ele tomou
conhecimento da obra de Antíoco desta forma do que teve acesso aos originais de
um historiador grego precursor e pouco conhecido.