quinta-feira, 28 de junho de 2012

Discutindo a Origem dos Povos Não-gregos da Sicília. The Greek Historians of the West - Lionel Pearsons (cont.)


·         pp. 14-15
·         Não há fragmento de Dionísio que preserve o que Antíoco tinha a dizer sobre o período entre a invasão Sícela e a chegada dos primeiros gregos. Nem há qualquer fragmento sobre a data da fundação de Siracusa.
·         Tucídides certamente conhecia o trabalho de Antíoco e nenhum dos dois dá uma data para a chegada dos Sícelos, apenas nos dizem que fugiam dos Opici. Dionísio afirma que Tucídides dá uma data, mas talvez só o tenha feito para mostrar a divergência com Helânico, que situou a travessia dos Sícelos na 3ª geração após a guerra de Tróia – um período muito anterior ao escolhido por Dionísio.
·         Tucídides data a fundação de todas as outras colônias gregas a partir de Siracusa, que é o que se espera de um historiador siciliano. Provavelmente, ainda que tenha feito pesquisas locais, suas informações vêm de Antíoco. 
·         Combinando o que Heródoto (7.156-7) diz sobre a destruição de Mégara Hibléia com o que Tucídides relata (6.4.2), chega-se a data de 733 para a fundação de Siracusa. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Discutindo a Origem dos Povos Não-gregos da Sicília. The Greek Historians of the West - Lionel Pearsons (cont.)


       Pearsons discute as coisas que Antíoco - historiador do sec V a.C. - teria definido, segundo lemos em Dionísio de Halicarnasso, sobre as origens de Sícelos e Sicanos

·         O problema da coleta de informação por Antíoco é que, se ele tentou fazer os mesmos inquéritos de Heródoto entre povos não-gregos, no Egito ou Babilônia, não teve o mesmo sucesso entre Sícilianos e Itálicos pois estes povos não praticavam a escrita no início do século V a.C. e a aprenderam de Gregos e Etruscos.
·         Pearsons: A tradição oral pode ser preservada sem o auxílio da escrita, mas para que isso ocorra, é necessário um vigoroso desenvolvimento político com a presença de centros políticos regionais. E apesar do forte desenvolvimento cultural na Itália do séc V a.C. não há sinal de um desenvolvimento político equivalente. Não se pode esperar relatos mais numerosos ou prolíficos do que os das comunidades não-gregas.
·         Nota 40: C.F.Crispo Contributo alla storia della più antica civiltà della Magna Grecia crê em tradições orais e escritores locais dos quais Antíoco teria derivado seus relatos. E arqueólogos como Bracesi La Sicilia Antica pensam que algumas tradições locais foram adaptadas pelos colonizadores gregos para seus próprios mitos fundadores. Contra esta idéia: L. Pareti, Kokalos 2 (1956: 5-19)
·         pp. 13-14
·         Políbio critica Timeu por não ter inquirido as populações ítalo-sicilianas não-gregas à moda de Heródoto, mas ele devia estar consciente da dificuldade em fazê-lo, assim como Timeu, e do pouco retorno dessa abordagem.
·         Antíoco queria estabelecer a história do sul da Itália pré-grega, como a história de um reino ‘italiano’ de pessoas que ele denominava oinoitroi . Demarcou as fronteiras deste reino: excluiu o calcanhar e o artelho da bota italiana ao sul e os Opici ou Ausones ao norte (Oscos, Samnitas ou Campanianos como os romanos os chamavam)
·         Ao escrever sobre a Sicília, não está claro como ele estabeleceu a distinção entre Sicanos e Sícelos. É suposto que os gregos da Sicília a fizessem, mas por que Antíoco escolheu dizer que os Sícelos vieram da Itália?  Antíoco não pode reclamar mais conhecimento sobre a origem dos Sícelos do que nós sobre a dos Etruscos. Como ele, somos dependentes de logoi e tecmuria.
·         Quando Dionísio fala sobre os Sicanos, ele pode ter dado o que pensava ser o senso comum, e não se pode ter certeza sobre quanto do que ele diz foi tirado de Antíoco. Este diz que os Sicanos eram um povo Ibérico que se fixou na Sicília não muito antes da invasão Sícela, fugindo dos Ligúrios. Diz ainda que não eram muito numerosos e que muitas partes da ilha permaneceram desabitadas, mas mesmo assim ela foi chamada de Sicânia após sua chegada. Antes seu nome era Trinacria. Uma explicação da Trinacria Homérica. A troca de nomes segue o padrão de Antíoco Oinoitroi, Italoi, Morgetes.
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The Greek Historians of the West - Lionel Pearsons (cont.)


·         p.12
·         Dionísios apresenta o que escritores anteriores disseram sobre a colonização da Sicília e as origens dos nomes dos povos: Antíoco chama os povos primitivos da Itália pelo nome grego de Oinoicroi mas eles nomeavam-se segundo um rei chamado Ítalo e que após sua morte, seu sucessor Morges reinou até a chegada de um certo Sícelo, que querendo criar um reino para si, dividiu o povo e levou-o para a Sicília.
·      pp  12-13
·      Helânico, contemporâneo de Antíoco trouxe Enéas para a Itália e colocou-o junto com Odisseus como co-fundadores de Roma. O início do sec. V é muito cedo para os romanos tentarem estabelecer origens troianas, mas os gregos procuravam helenizar o local onde surgiu Roma, para colocar toda a Itália como extensão da Grécia.
·    Tudo acima seria tradição, mas Dionísio ‘com sua credulidade típica’ teria tentado estabelecer a tradição como os fatos.
·     Nota 39 – B. Brea (Sicily before the greeks (1966) e Kokalós 10-11[1964-5]) diz que a tradição é certamente falsa pois não se encontrou em escavações na Sicília traço algum de culturas apeninas ou sub-apeninas. Para Brea, os predecessores de Dionísio não estavam tão inclinados a aceitar a tradição e acrescenta que seria mais uma 'teoria' que uma tradição.

sábado, 23 de junho de 2012

PLUTARCO II - TESEU (cont.) - HOMERO E INTERPOLAÇÕES NA ILÍADA


·         Plutarco cita o Canto II de Homero – “catálogo das naus” – e diz que Homero reconheceu a tradição democrática dos atenienses pois é o único grupo que nomeia como ‘povo’. 
Algumas observações: Ainda que nada tenha se perdido nas traduções e cópias antigas, é quase certamente uma interpolação posterior feita com propósitos políticos, por algum membro radical do Demos ateniense, ou admirador que viveu entre a época de Homero e a de Plutarco, portanto num intervalo de 800 anos no máximo. Existe a possibilidade de que seja uma adição não presente no texto original de Plutarco e o estilo quase certo nos levaria ao radicalismo dos séculos XVIII-XIX. Mas se a observação não estava no texto original de Plutarco, nem a menção aos atenienses como povo em Homero, então qualquer época dos últimos 3 séculos é uma escolha possível. O argumento em favor de interpolações espúrias ainda na antiguidade se torna mais forte quando lemos adiante em Homero II, 557-8, que os navios de Salamina se alinharam junto dos Atenienses. E a época em que ainda havia disputa sobre Salamina pertencer ou não a Atenas pode situar a 2a interpolação no fim do sec. VI,  se não as duas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

READING AND BOOK REPORT OF WORK / LEITURA E FICHAMENTO DE OBRA: The Greek Historians of the West - Lionel Pearsons


The Greek Historians of the West
Timaeus and His predecessors
Pearsons, Lionel

·         INTRODUÇÃO
· (p.vii) 856 historiadores gregos perdidos em http://en.wikipedia.org/wiki/Fragmente_der_griechischen_Historiker by Jacoby.
·         (pp. vii-viii)Timaeus:
- Morto c. 250 a.C.
- Principal fonte para a história dos Gregos Ocidentais, amplamente lido e citado em outros autores.
- Encontrado em Diododorus Siculus, (principal obra que sobreviveu e o cita) que não o cita, mas foi sua pricinpal fonte. Outras fontes de DS sobre os gregos ocidentais: Éforo (ephorus), Filisto (philisto), Teopompo (teopompus), Duris de Samos.
- DS não era crítico e suas comparações com versões anteriores a Timeu foram provavelmente feitas pelo próprio Timeu.
·         (p. ix) Críticas a Timeus :
- Mto popular
- Intervenção do miraculoso
- Gosto pela e talento para a dramaticidade
- ‘Nacionalismo’ Siceliota
·         Livro VI de Tucídides sobre a História primitiva da Sicília baseado em Antíoco, e provavelmente serviu de fonte a Timeus, junto com Filisto.  Antíoco => Tucídides => Filisto => Timeus.
·         CAPÍTULO 1
·         p. 1
·         Filistos e Timeus são personagens bem conhecidos. O 1º do sec IV e o 2º do sec III a.C.
·         TIMEUS – “the most important historian between Ephorus and Polybius”
·         Políbio (Livro XII) o achava pouco critico e Plutarco( Nícias 1, Dion35) o achava preconceituoso e mto dado a querelas.
·         Fonte de Cícero, Dionísio de Halicarnasso, Plínio, o Antigo e Diodorus para  a história dos gregos da Sicília.
·         No tempo de Políbio, a história dos gregos do oeste já tinha sido delineada em suas bases e foi Timeus quem o fez.
·         Pp 1-2.
·          Para a Grécia Continental e Med. Leste houve 6 historiadores principais: Heródoto, Tucídides, Xenofonte, Éforo e Helânico e Teopompo em grau menor. Os 3 primeiros são conhecidos como Diodoro os conheceu, mas no Oeste não há textos conhecidos de Antíoco, Filisto ou Timeus. As referências em Diodoro, Estrabão ou Dionísio são incertas, podem ser de memo ou segundo pósteros como Posidônio, de quem também não há nenhum texto.
·         P. 3
·         Timeus e seus predecessores seguiram a tradição ta panu arkaia, indo às orígens das cidades (Kteseis) e ao papel de cada uma na idade heroica. Coisa que Heródoto e Tucídides não fizeram no Leste, apesar de fazerem uma ou outra referência a mitos fundadores.
·         Nas Kteseis e nos Horoi (anais) foi feito um esforço para prover as colônias, em especial cidades da Ásia Menor e das ilhas com uma História sobre seus tempos primitivos e, para dotar as cidades do Euxino – cujas datas de fundação eram bem conhecidas – com uma História mto anterior às suas fundações.
·         Jacoby – apoiado por Pearsons – diz que não há registro desses esforços nas cidades da Itália e da Sicília e que esse tipo de História Fundacional não se desenvolve mesmo na Jônia até a metade do sec V a.C.
·         Material para composição: enorme tradição de mitos pós-homéricos, tradição  da poesia lírica arcaica, perdida e o ciclo hesiódico.
·         P.4
·         Quando Heródoto conta a origem dos Citas emoi men ou pista legontes , ele não escolhe uma mitologia autêntica, mas provavelmente uma história escrita por algum autor grego de história Pôntica com raízes na região. Os Citas seriam descendentes do 3º filho de Héracles com uma criatura local.
·         Ao levar Héracles à Cítia, os gregos podiam clamar legitimidade sobre a região, pela descendência. O mesmo se dá com Êryx, na Sicília, que no mito foi conquistada por Héracles sobre Êryx e deu ao real espartano Dorieu motivo para ali fundar uma colônia. Lembrar que os reis espartanos eram Heráclidas.
·         pp. 4-5
·         No Oeste entretanto, há poucas citações presentes na poesia arcaica sobre mitos. Isso levou os historiadores dessas regiões a criarem uma série de mitos fundacionais para servir ao propósito do direito pela ascendência. Havia ainda menos material sobre os 4 séculos – Dark Ages – seguintes à Idade Heróica e Políbio (12.26d – T19) diz que os primeiros livros de Timeu ocupam-se de genealogias e origens de cidades. E não estaria Timeu ocupado apenas com os colonos gregos do fim das DA, mas também com as origens de Sícelos, Sicanos e outros não-gregos.
·         Na Grécia do Egeu, uma tradição sobre as migrações das DA estabeleceu-se desde cedo.  Os Dórios chegaram após a Guerra de Tróia, causando grande destruição e encerrando a Idade Heróica e forçaram as migrações de muitos povos para as colônias na Ásia Menor. Os gregos mostravam as ruínas de Micenas e Tirinto como prova dessa história.
·         No Oeste, ao contrário, não houve tradição oficial sobre o que aconteceu ao fim da IH. E talvez os gregos não tivessem muito interesse sobre isso, mas os historiadores da região fizeram esforços para estabelecer e contrariar versões.  Porém, se no Egeu, as escavações confirmaram grande parte da tradição, na Sicília foi o contrário. (cf. Bernabò Brea, Sicily before the Greeks)
·         pp. 5-6 – Tucídides (VI, 3-5) deixa a impressão de que as datas de fundação eram conhecidas, mas há disputa sobre elas, e quando o oráculo de Delfos aparece para definir datas, é quase certo ser uma tradição inventada e não registro oficial.
·         Não há história das cidades gregas do Oeste, apenas histórias gerais, itálica sicílica.
·         “We know that the colonies experienced the same conflict between oligarchy and democracy as in old Greece, and that the development of democracy was interrupted by the rise of tyrants in many cities” [ Não é um problema com a descrição de quem elaborou as histórias, vendo mais semelhanças nos processos do que diferenças ? ]
·         P.9
·         Quando Tucídides escreve sobre a Sicília, ele provavelmente leu em Antíoco, mas Heródoto sobre os Denomênidas ou sobre a vitória de Hierão, tirano de Gelón sobre os cartagineses, provavelmente foi numa conversa, originada da tradição oral. Depois de 480 não há qualquer material ou tradição oral Siceliota ou Italiota até a invasão ateniense em 415. Éforo teve de recorrer a material escrito para preencher as lacunas.
·         Timeu refez os relatos de Tucídides e Heródoto sobre a Sicília mas recorreu certamente a relatos fictícios e inventou parte do que escreveu. Não há porém tradição oral para fazer uma colisão de textos.
·         Políbio considera Timeu um dos piores historiadores, mas sua autoridade sobre a história dos gregos ocidentais permaneceu insuperada. Tanto Políbio quanto Plutarco e Diodoro o criticam mas nenhum propôs uma fonte alternativa.
·         PRECURSORES DE TIMEU
·         P. 10
·         HÍPIAS (HIPPYS) DE RÉGIO (RHEGIUM)
·         Supostamente o mais antigo historiador da Sicília. Boa chance de não ter existido e criado no período helenístico para compor uma ‘tradição’ anterior.
·         A Suda informa que Hípias foi o 1º. a escrever História da Sicília, e começou no tempo das Guerras Pérsicas.
·         Obras:
- Kteseis of Italy, Sicelica – 5 livros.
- Crônicas – 5 livros
- Argolica – 3 livros.
·         Sua obra teria sido epitomizada por um certo Myes.
·         Cadmo de Mileto teria sido epitomizado/inventado por Bíon de Proconeso ou alguém se dizendo ele, que disse ser Cadmo o 1º a escrever História da Iônia, embora a tradição atribua a primazia a Hecateu/Hecataeus.
·         Se Hípias foi o 1º a escrever história do oeste grego, surpreende não ser citado em Dionísio, Diodoro, Estrabão ou Pausânias. Só Estéfano de Bizâncio o menciona.
·         Os que mais crêem na existência de Hípias seriam eruditos italianos, entre os quais De Sanctis e Momigliano.
·         Pp 8-9
·         Fragmentos atribuídos a Hípias contrariam opiniões e versões geralmente reconhecidas :
- Teria descoberto um pitagórico Petron (cf. Plutarco), que dizia haverem 83 universos, embora ninguém antes dos atomistas tenha aventado a hipótese de haver mais de um universo.
- Chama os Argólidas de povo “pré-lunar”, dando-lhes mais antiguidade que os Frígios (contrariando Heródoto).
- Teria contado a história de Jasão ter trazido Medea para Corinto, sugerindo-o ser a fonte da Medea de Eurípides.
- Teria dito que um certo rei argivo Pollis na Sicília deu nome a um vinho.
- E que havia um lugar de mistérios que matava quem lá dormisse, armadilha construída pelo rei Epainetos durante a 36ª olimpíada quando o Esparatano Aritamas venceu o Stadium.
- Nas duas últimas nenhuma referência há sobre esses reis ou sobre o olímpico. O autor da epítome escreveu por volta de 280 a.C. o mais tardar e não muito antes pois historiadores não usavam a datação olímpica antes.
·         P.10
·         Pearsons conclui que alguns preferem crer na existência de Hípias e não em sua invenção pelo ‘epitomizador’.  Mas para Pearsons, a 1ª alternativa é a mais difícil de arguir.
·         P. 11
·         ANTÍOCO DE SIRACUSA
·         ‘More solid ground’ . Dionísio, Diodoro, Estrabão e Pausânias o citam.
·         Possível mesma idade de Heródoto, não mais antigo que Tucídides. Teria encerrado sua obra em 424/23 .
·         Escreveu em dialeto Iônico, nem ático nem dórico de Siracusa, talvez querendo ser considerado o Heródoto do Oeste. Diodoro nos conta que sua obra foi dividida em 9 partes por alguém que a organizou em Alexandria.
·         Pearsons segue Jacoby ao dizer que Antíoco não teria feito duas obras sobre a Itália e sobre a Sicília, mas uma só
·         Itália para Antíoco é uma área restrita, não compreende sequer a Magna Grécia.
·         Ele começa sua narrativa com peri italihs. Embora Estrabão ache que é o título descrevendo a obra, na verdade é sobre os italoi, as pop. não-gregas (Oinocroi os primeiros) em suas migrações no continente e então para a Sicília, antes da chegada dos Sícelos.
·         P.12



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terça-feira, 19 de junho de 2012

A MORTE DE ALEXANDRE MAGNO PARTE II - Uma morte em duas versões.

O debate sobre se Alexandre morreu de doença ou veneno pode ser reduzido ao incrível - e patético - nível de uma briga partidária. Os dois textos que Robin Lane Fox * (consultar o final do artigo) nos apresenta como sendo as fontes originais de tudo que se escreveu depois, apontam para isso.

De um lado, aqueles que apoiavam a sucessão da cada macedônica de Filipe II e seu filho Alexandre, chefiados por Poliperconte. De outro estavam os generais, cada um desejoso de herdar o Império Alexandrino, e que acabariam por dividi-lo duas décadas mais tarde. 

A fonte que aponta para a morte como doença era o suporte dos generais e talvez tenha sido fabricada por eles para combater a fonte que aponta a morte por envenenamento, que teria sido composta e divulgada pelos partidários da continuidade - ou seja, aqueles que apoiavam a dinastia de Alexandre, os Argéadas e planejavam entronizar seu filho póstumo, Alexandre IV, que Roxane esperava quando Alexandre suspostamente morreu em 323 a.C.

É fato conhecido que durante seu breve reinado (336-323 a.C.) Alexandre enfrentou várias conspirações. Não foi devido à natureza particular do rei macedônio, que além de encolerizar-se fácil, era homem de muitos talentos, o que facilmente provoca a inveja daqueles que o cercam, embora encha a quase todos de admiração. Não. O problema das conspirações era endêmico na Macedônia. Filipe II, o pai de Alexandre enfrentou algumas, e acabou sendo morto em uma delas. Na Macedônia eram comuns as deposições de reis, os usurpadores, os massacres de parentes e personagens de sangue real que pudessem aspirar à nobreza.


No dizer de Fox, "após todos os seus muitos mistérios, seria improvável que Alexandre morresse de forma comum". Seus oficiais procuraram não dar detalhes sobre sua morte num primeiro momento. E esse fato contribuiu para o surgimento de ainda mais rumores sobre como e porque Alexandre teria morrido. O tema da Morte de Alexandre seria recorrente nos conflitos entre os generais e cada um usava livremente a morte de Alexandre como uma acusação gratuita de crime lançada sobre os demais, sem muito respeito pela verdade.


Todas as possíveis respostas para o mistério começam na noite de 29 de maio de 323, quando houve uma festa na cada de Medius, um Companheiro ** da Tessália.  Alexandre ficou bebendo noite adentro e durante o banquete, propôs um brinde a Proteas bebendo de uma taça de 3/4 de litro e Proteas respondeu propondo um brinde ao rei. Mais tarde Proteas propôs outro brinde a Alexandre e deu-lhe a mesma taça. Alexandre aceitou o brinde e bebeu da taça de um gole só, mas desfaleceu e não pode recuperar-se, sendo levado da festa para seu palácio. Como resultado disso ele caiu doente e dessa doença, morreu.


O autor deste relato é Efipo, conhecido por espalhar fofocas.  Segue outro relato da mesma festa.


Ao final do jantar de Medius, Alexandre recitou uma passagem da Andrômeda de Eurípides que tinha memorizado. Após isso, bebeu à saúde de todos os 20 convidados do banquete, um vinho não misturado***. Todos os convidados fizeram o mesmo brinde a ele. Após retirar-se da festa, não passou muito tempo até que começou o declínio de sua saúde.

O autor desta versão seria um certo Nicóbulo, autor desconhecido.




Aqui a história fica interessante, porque estamos diante de um problema clássico em História: não é o que é contado que é interessante, mas quem contou e porque.


A questão seguinte que Fox nos propõe é: além de Medius, quem eram os outros 19 convidados ?


 Esse é o ponto em que Fox nos descreve o surgimento de dois documentos que são a base de um embate entre duas versões:

a) De um lado um panfleto nunca encontrado, mas presente no Romance de Alexandre, texto ficcional composto uns 500 anos depois e muito popular na Idade Média. Segundo Fox seu estilo e informações gerais remetem a uma época 10 anos posterior ao evento da morte de Alexandre, como se fossem documentos encontrados sobre sua morte por pessoas que estiveram presentes ao fato, mas só escreveram sobre ele alguns anos depois. Esse texto sobrevive em quatro versões, 3 das quais dão detalhes sobre a morte de Alexandre. Segundo Fox é possível identificar nas versões uma fonte só, que merece ser levada a sério. Ela contém a lista completa de convidados presentes no  banquete.


b) De outro, um relato chamado Os Diários Reais de Alexandre que seriam uma compilação atribuída a Eumenes, secretário pessoal de Alexandre, e um certo Diódoto. Esse documento descreveria em detalhes a progressão da doença de Alexandre, dia a dia. Sobrevivem apenas 3 longas passagens que o descrevem caçando, em banquetes ou jogando dados. Estas passagens se concentram sobretudo no último mês de vida de Alexandre.Os Diários insistem sobre bebedeiras contumazes de Alexandre, retratando longos períodos de sono para recuperar-se.



Será que já ficou claro quual versão os Realistas - apoiadores da casa real de Alexandre - apoiavam e qual relato os generais ambiciosos por herdar seu império defendiam ?

Prossseguiremos na parte III. Até mais.