domingo, 9 de janeiro de 2011

Sócrates - O Intelectual X O Poder


Alguns anos atrás, na UERj, causei um certo impacto junto a alunos da instituição em cursos que participei, ao falar de Sócrates.

Minha tese era simples: Sócrates fora executado como inimigo da Democracia.

E isto chocava os jovens alunos de Filosofia e História, que foram ensinados a ver Sócrates - e efetivamente viam - como um herói da liberdade, da intelectualidade, que morreu em desafio e mesmo desprezo das regras e idiossincrassias sociais e legais do seu tempo. 

Mas a tese continuava....

Finda a Guerra do Peloponeso (431 a.C. - 404 a.C.), os Lacedemônios (popularmente conhecidos como Espartanos) instalaram um governo fantoche na Atenas derrotada, apoiados por uma guarnição: os 30 Tiranos. Um deles, o famoso Crítias, liderava os demais e seria parente de Sócrates. Alguns dizem tio ou sobrinho, isto é incerto.

Mais q isso, Sócrates tinha entre seus discípulos vários dos Tiranos, e quando o governo deles, de curta duração (403 a.C. - 401 a.C.), terminou, um certo clima de caça às bruxas ficou no ar. Lembro-me de não sei qual helenista francesa - creio q foi Claude Mossé - ter destacado que foi uma devassa relativamente pouco sangrenta em comparação com outros choques de facções entre as Póleis no mundo grego. Apesar de poucas vítimas, Sócrates foi uma delas.

Sócrates recebeu um julgamento de Inimigo do Estado, e este era democrático - não vou entrar no mérito da Democracia Escravista, que de resto Sócrates também apoiava no seu contexto, mas vamos convir q o governo do Demos em Atenas era menos restrito q o dos 30 Tiranos.

Anos atrás escrevi um 1o artigo sobre isso, publicado num periódico online chamado Duplipensar.

http://www.duplipensar.net/dossies/2004-Q3/tiranos-socrates.html

E claro, a tese é tão óbvia - se vc não for um estudante da graduação e de repente até se vc for - que deve ser facilmente encontrada em autores que viveram mto antes de mim.

Chegamos ao que interessa: o filme de Roberto Rosselini Socrate, 1970. Rossellini utiliza abertamente os Dialogoi de Platão para fazer seu filme. E para o Prof. Roberto Bolzani, a postura do intelectual diante do poder, como um resistente, é explícita. Bolzani nos diz que Sócrates era um legalista. Não pretendia abrogar a lei. Mas que colocava suas convicções pessoais acima da lei. Sócrates não pensava ter cometido crime algum.

Sócrates é então representativo de uma questão européia mto profunda - principalmente no início da década de 70, época do filme - Qual é o papel do intelectual diante da sociedade ? Como ele se porta perante o poder ?

Emblemático dessa questão, ainda conforme Bolzani, é o fato de que Sócrates não escolheu para si nenhuma pena alternativa, costume entre os atenienses quando da condenação à morte. Sócrates teria dito que ele não poderia escolher para si nenhuma outra pena, pois estaria admitindo cometer um crime que ele julgava em sã consciência não ter cometido.

Abaixo interessante texto sobre a filmografia de Rossellini no que toca a filósofos.

http://www.bocc.uff.br/pag/pereira-fausto-quatro-filosofos-roberto-rossellini.pdf

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