JOGOS OLÍMPICOS ANTIGOS - Olimpíadas I / Ancient Olympics

Ah, as Ollimpíadas. Que evento bonito, mundial, marca da civilização ocidental que se espalhou rapidamente pelo mundo inteiro. Tanto por influência do colonialismo quanto pelo desejo de participar da festa que foi promovida como um evento humano, mais do que ocidental, ou meramente grego como era nas origens antigas.  

Nas próximas semanas, faremos alguns comentários sobre os Jogos Olímpicos Antigos (776 a.C. - 393 d.C.), com suas muitas diferenças para os de hoje, suas histórias, seus vencedores olímpicos, de quem se contam não poucas curiosidades, algumas inesquecíveis. 

Que tal começarmos por uma das cerimônias iniciais, a da Tocha Olímpica ?

É necessário fazer dois esclarecimentos sobre ela

1 - Ao contrário do que é muito comum pensar e ouvir por aí, a cerimônia da Tocha Olímpica não é uma cerimônia antiga. Na verdade ela começou nas Olimpíadas de 1936, em Berlim. 

2 - É preciso diferenciar entre Tocha Olímpica e Chama Olímpica ou Fogo Olímpico como está última também é chamada.  A Chama Olímpica, estática, é parte do rito da antiguidade. 

O fogo aceso durante os Jogos Olímpicos da Antiguidade (JOA) era cheio de simbolismos. 

Primeiro, ele representava  o fogo que Prometeu, herói semidivino, tinha roubado aos deuses para dar vida aos homens. E a história de Prometeu era uma metáfora da cultura, do saber. 

Os gregos tinham uma certa adoração pela própria cultura, e também pela sua própria etnia. E viam os não-gregos como sendo de certo inferiores aos gregos, e os chamavamde Bárbaros ou βάρβαροι. E dentre os gregos, jônios se diziam melhor que dórios e vice-versa.

Por causa disso, os gregos admitiam apenas os gregos nos Jogos Olímpicos, e mais tarde, por força das circunstâncias, admitiram Macedônios e depois Romanos. 

Mas a Chama Olímpica estava presente nos Jogos. Era acesa durante sua duração, simbolizando também a  Trégua Olímpica durante o período de 5 dias que os jogos duravam. Período em que as guerras endêmicas entre os próprios gregos deveriam ser suspensas para que todos os que participassem das provas o fizessem em clima de paz e competição saudável. 

É claro que isso não acontecia, e houve mais de uma confusão envolvendo, por exemplo, os Espartanos. Estes acusaram seguidas vezes os Eleus de trapaça ou de decisões desfavoráveis a eles. Os Eleus eram os donos da festa, pois as cerimônias eram sempre em Olímpia, cidade sagrada e os Eleus da Élida, região onde ficava Olímpia, eram os juízes das provas atléticas.* (veja o fim do artigo)

Acontece que os Eleus estavam no Peloponeso. a região dominada por Esparta desde o século VI, e as Olimpíadas emprestavam-lhes um certo grau de autonomia que com certeza gerava atritos entre Eleus e Espartanos. Com os conseqüentes reflexos durante os jogos. Pouco se vê porém, menção aos Eleus em outros assuntos que não as Olimpíadas, mas eles eram uma unidade política como Atenas, Tebas, Esparta, Fócia e outras da Grécia.  Oportunamente mencionaremos episódios político-militares em que os Eleus estiveram envolvidos.

A Tocha Olímpica - Cerimônia moderna.

E a Tocha Olímpica ? Em que difere do Fogo ou Chama Olímpica ? Bem, na antiguidade essa cerimônia não existia. O fogo era aceso na própria cidade de Olímpia e ali mantido durante os 5 dias de competição. Não havia essa viagem, não havia trajeto a percorrer fora dos bosques sagrados de Olímpia.

Então como surgiu essa idéia ?

Por incrível que pareça, a cerimônia da Tocha Olímpica é uma cerimônia desenvolvida pelos Nazistas na Alemanha, que servia aos seus propósitos e à sua propaganda. Mas mesmo após a derrota dos alemães e a extinção do Nazismo, nas olimpíadas seguintes, a cerimônia criada pelos nazistas foi mantida porque os membros do Comitê Olímpico acharam a cerimônia ilustrativa para o evento.

Só que tomaram o cuidado de mudá-la.

A única tocha presente na cerimônia original grega, era a tocha sagrada que acendia uma pilha de lenha para os sacrifícios antes dos jogos. Os sacerdotes preparavam a lenha e um deles esperava com uma tocha acesa. então, os peregrinos mais ágeis e fortes eram alinhados a cerca de 200 metros do altar e corriam essa distância até o sacerdote. Aquele que chegasse primeiro teria a honra de acender o fogo dos sacrifícios e portanto recebia a tocha. Além da glória de ser proclamado campeão olímpico, passava a ser considerado um favorito de Zeus. **

Ao contrário da cerimônia grega, que ficava restrita ao local das competições, em 1936 houve uma viagem entre países. O trajeto inicial da Tocha em 1936 foi de Atenas para Berlim, direto, sem passar por outros lugares ou dar a volta ao mundo. Os Nazistas tinham seus próprios simbolismos para a sua cerimônia: eles queriam dizer que a Grécia, berço da cultura ocidental tinha sido transportada para a Alemanha e eles, alemães eram seus herdeiros.

E além disso, para os nazistas, os gregos seriam uma 'raça indo-ariana', que anunciava os próprios alemães, ou seja, seriam os precursores da raça ariana, criadores de cultura, que roubavam dos deuses para dar ao mundo. Como os nazistas queriam ser vistos.

Nas cerimônias seguintes, após a guerra, a derrota dos nazistas, etc, a cerimônia da Tocha Olímpica foi mantida, a partir de 1948 em Londres - esta mesma londres que recebe os jogos este ano em 2012, já foi palco das Olimpíadas duas vezes antes, em 1908 e 1948

Sugestões e comentários são bem-vindos.  E abaixo seguem links úteis.

http://en.wikipedia.org/wiki/Olympic_Flame
http://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Diem



* Os juízes das competições eram da cidade de Pisa, no Peloponeso, mas após a 7a. Olimpíada (748 a.C.) passaram a ser os senadores de Elis, os helanóicas
** cf. Godoy, L Os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga